quarta-feira, 27 de maio de 2015


                                                                                          Currículo Local

                                            Introdução


 Este trabalho está baseado para o estudo reflexivo da Implementação do currículo local do ensino Básico com a seguinte abordagem: Currículo local: Um olhar para a sua implementação no ensino Básico. O estudo permite compreender o processo de construção do currículo local e sua implementação. Este ensaio tem duas partes a considerar: a primeira discute de forma breve os conceitos de currículo e do currículo local e na segunda parte trás uma breve narração histórica da educação em Moçambique e faz um enquadramento do currículo segundo as teorias do currículo e discute as questões de recolha, sistematização, legitimação e implementação dos conteúdos do currículo local.

Em 2004 o Ministério de Educação (MINED) introduziu inovações no Novo Currículo do ensino Básico com base na transformação curricular de 2002; são elas: o “ciclo de aprendizagem, ensino básico integrado, Currículo Local, distribuição de professores, Progressão por ciclos de aprendizagem, línguas moçambicanas, língua inglesa, ofícios, educação moral e cívica e educação musical”( INDE, 2003: 24- 31). Dentro dessas inovações, destacamos o currículo local, os professores, a comunidade local como o foco do  estudo.

INDE (2003: 82), entende o currículo local como sendo “o complemento do currículo oficial, nacional, definido centralmente, que incorpora matérias diversas de vida ou de interesse da comunidade local nas mais variadas disciplinas contempladas no Plano de Estudos”.

 Este conceito mostra o vazio que existia ao abordarmos apenas os conteúdos centralmente definidos e com a inclusão dos saber local torna o ensino mais relevante e pode reforçar a interacção entre a escola e a comunidade, ou seja, aquilo que era a cultura local ela já é valorizada e discutida nos meandros da escola, e Basílio (2006:22)  na sua dissertação argumenta esta posição que o  interesse da escola pela comunidade tem como objectivo estabelecer as relações de diálogo entre a própria comunidade e a escola, entre os saberes locais das comunidades e os saberes universais para o desenvolvimento da prática educativa.

O currículo local não pode ser um submundo em relação aos conceitos universais que são mediadas na escola. Hoje ganharam um espaço privilegiado nos processos de construção da nossa identidade e por isso mesmo, não raras vezes ouvimos as expressões: “temos que voltar para as nossas raízes; temos que resgatar a nossa identidade” querendo manifestar o sentimento de que estamos ficando demasiado “alienados” pelos valores ocidentais esquecendo a nossa cultura. Aqui chamo submundo, os saberes locais que são considerados marginais aos processos educativos na escola.

Durante muito tempo e, talvez, por razões históricas, o sistema nacional de educação em Moçambique os nunca de forma nítida os saberes locais foram constituintes do currículo.

Recordo-me que na década 80, eu estava numa escola rural, lá éramos proibidos de falar a nossa língua materna e hoje essa língua é veiculo de ensino-aprendizagem das crianças.

Apesar da inclusão dos conteúdos locais na escola existem inúmeras vicissitudes para a implementação. Umas estão ligados a questões estruturais do sector (Formação inicial e capacitação de professores em exercício nos primeiros ano da introdução do currículo) e a outra tem que ver com o próprio processo de implementação do currículo local pelas direcções das escolas. De forma especifica, estas dificuldades estavam ligadas a recolha, a selecção e sistematização dos conteúdos, a gestão dos 20% do tempo lectivo, a fraca participação da comunidade, a validação dos conteúdos do currículo local e a avaliação ( cf. Básilio, 2006: 46).

Durante as minhas visitas de supervisão pedagógica as escolas fui confrontado com problemas e perguntava aos professores se implementavam os conteúdos do currículo local na sala de aula , eles diziam :

Primeiro professor: eu implemento o currículo local na fase de introdução e motivação porque quando eu quero introduzir, por exemplo, um tema sobre os rios de Moçambique,começo primeiro por perguntar aos alunos se conhecem um rio aqui no distrito e daí introduzo o novo tema”

O segundo professor diz: “Implemento o currículo local, por exemplo quando mando os meus alunos fazer cestos, tecer capim,esteiras estou a implementar o currículo local”.

Os dois depoimentos mostram que os professores estão conscientes da implementação do currículo local. Ora, essas respostas explicitam uma limitação cognitiva na abordagem dos conteúdos locais. Assim, demonstra que os professores precisam de muito aprofundamento em relação a abordagem dos conteúdos do currículo local.

Um dos objectivos do currículo local é de desenvolver nos alunos saberes locais, dotando-lhes conhecimentos, habilidades, valores e atitudes que lhe permitam ter uma participação plena no conhecimento social, cultural e econômica na sua comunidade (INDE, 2011: 11). Ora, se se quer que os alunos tenham conhecimentos locais e participem na vida cotidiana da comunidade deve-se trazer os conhecimentos para a escola e discutir com os alunos porque “a escola é o único lugar privilegiado para a construção de conhecimento sistemático” ( MINED/DNGGQ, 2013 ).

Com este estudo, poderíamos elaborar um conjunto de questionamentos; porém, interessa-nos apenas responder às seguintes perguntas: haverá uma contribuição ou participação da comunidade na implementação dos conteúdos do currículo local na escola? Até que ponto está participação reforça a relação escola- comunidade (acompanhamento dos seus educandos, valorização da escola, participação das actividades na escola e principalmente da leccionação dos conteúdos do currículo local) e como são implementados e avaliados no processo de ensino-aprendizagem?

A resposta a estas questões é-nos dada pela revisão bibliográfica e das experiências vividas  como profissional de educação e interessado ao estudo do currículo local.

O interesse pelo tema deste estudo tem a ver com a contribuição que vai emprestar para os professores na leccionação dos saberes locais; também está relacionada com experiências vividas no dia-a-dia do meu trabalho de apoio as escolas no desenvolvimento Profissional continuo aos professores.Nós aprendemos através e a fazer experiências. É com base nesta experiência e como pessoa interessada em estudar fenômenos relacionados a educação, utilizarei estas experiências como ponto de partida do estudo.

Julgo ser um trabalho que em futuras situações poderá servir para o conhecimento da grande contribuição dos saberes locais poderá dar na vida dos alunos. Esta dissertação proporcionará conhecimentos válidos para os professores comecem a tomar atenção sobre o que os alunos perdem quando não abordam os conteúdos do currículo local.

Como Objectivo geral do estudo é analisar a implementação do currículo local no processo de ensino-aprendizagem. De forma especifica, pretendo analisar a participação da comunidade na implementação dos saberes locais na escola e descrever as actividades que o professor realiza na construção do currículo local na sala de aula.

·         Como hipótese destacamos as seguintes: Os professores integram conteúdos do currículo local no processo de ensino-aprendiazgem envolvendo a participação da comunidade.

·         Os professores não integram conteúdos do currículo local no processo de ensino-aprendiazgem sem envolvendo da participação da comunidade.

Ao focalizarmos o estudo para o currículo local no ensino Básico, tenho a plena consciência de que existem muitos factores que contribuem para a sua implementação. Assim, o foco desta pesquisa são os saberes locais, os professores e a comunidade local.

Para isso, a observação dos procedimentos, dos planos de aula, da conversa com alguns membros da comunidade formam o objecto de observação do estudo.

O estudo de campo foi realizado, especificamente nas EPC-Sede da cidade da Maxixe na Província de Inhambane. A selecção desta escola prende-se por duas razões fundamentais: a primeira deve-se o facto de ser uma escola que já fui por várias vezes realizar visitas de supervisão pedagógica e a segunda por ser uma escola próxima que facilitaria obter rapidamente dados para fazer este ensaio.

O estudo fundamentou-se na revisão literária, conversa com professores e o presidente do Conselho de escola e no futuro e na observação de plano de aula e a curto prazo irei assistir algumas aulas para poder entender os  processos de construção currículo local  na escola com a participação da comunidade.A revisão literária permite fornecer a base teórica e empírica para a formulação das hipóteses e traz contribuições mais importantes  directamente ligados ao assunto. As entrevistas foram dirigidas a alguns professores do ensino primário, pessoas informantes da comunidade, directores de escola e pais e encarregados de educação.

As entrevistas, segundo MICHEL, M. (2009: 68) fornecem maior amostragem, maior flexibilidade, permitindo esclarecimentos, perguntas, confirmações etc., maior oportunidade para obtenção de dados relevantes que não se encontram em fontes documentais, possibilita obter informações, comprováveis de imediato, permite dados quantificados e submetidos a tratamento estatístico.”

 

 

 

 

 

1.      Abordagem teórica sobre o currículo local


1.1.Conceitos sobre o currículo e currículo local


 

Torna difícil delimitar o conceito de currículo porque ele não é acabado depende do contexto e das condições em que ele se insere. É um conceito que pela definição precisa de consenso de quem os define. Para este estudo trouxemos a ideia do Pacheco (1996:17) que considera o currículo como “um plano que apresenta um conjunto de experiências educativas vividas pelos alunos dentro do contexto escolar, como um propósito bastante flexível que permanece aberto e dependente das condições da sua aplicação”.

Analisando o plano curricular do ensino Básico de Moçambique a ideia de Pacheco encontra um espaço para justificar e comprovar que este currículo foi desenhado com tendência de olhar as experiências educativas dos alunos e da realidade em que pode ser aplicado.

O contacto do aluno com os conteúdos locais, abordados transversalmente, permite melhor desenvolver competências que lhe dão poder de equilibrar o que já sabe em relação aos conteúdos planificados nos programas de ensino e os saberes locais do seu quotidiano. Para consubstanciar podemos referir-nos aos 20% do tempo lectivo reservados para integração dos conteúdos do currículo local nos programas de ensino.  

INDE (2011: 10) define o currículo local como uma componente do currículo nacional correspondente a 20% do total do tempo lectivo previsto para a leccionação das diversas disciplinas do plano de estudo”. Esta componente é constituída por conteúdos definidos localmente como sendo relevantes para a integração da criança na sua comunidade.

Para Basilio( 2006: 16) “os conteúdos locais são provenientes da realidade da zona a onde a escola se inscreve e são diferentes de região para região são saberes locais porque se prendem com o material de interesse local que emociona as crianças.

Essa ideia pode entrar em dissonância com a que fundamenta que “o espaço não pode ser determinado apenas geograficamente, mas sim compreende o espaço onde se situa a escola que pode ser alargado à ZIP, distrito e até mesmo a Província, comportando consigo vivências e anseios da comunidade em que está inserida, cabendo a mesma comunidade definir o que gostaria que os seus filhos aprendessem” (INDE, 2011: 12).

Por exemplo, no manual distrital de currículo local da Maxixe estão reflectidos conteúdos ligados a timbila como conteúdo local mas ela não é um elemento cultural que identifica o distrito da Maxixe. Assim, reforçando a ideia do alargamento do que é local, os conteúdos locais podem não ser necessariamente da zona, mas de outra, desde que se revista de uma grande importância e de interesse da comunidade.          

 

2.      A concepção do currículo do Ensino Básico em Moçambique


Analisar o currículo do ensino Básico remete-nos a um exercício de ver o seu enquadramento histórico fazendo um relacionamento com as grandes teorias que se concentram ao estudo do currículo no geral.

Em Moçambique, a educação passou por várias fases do seu desenvolvimento, desde a educação da era colonial e pôs-independência e talvez outra fase que merece uma leitura atenta é da globalização, das novas tecnologias de comunicação e de informação e das descobertas dos recursos naturais, como é que a educação se pode posicionar perante essas realidades?

Na era colonial, a educação estava reservada aos filhos colonos branca e aos “assimilados” que frequentavam o ensino liceal e ensino técnico- Profissional para os indígenas, eram educados com o objectivo de civilizar e nacionalizar o indígena por meio da língua portuguesa e gradual apreensão da doutrina e moral cristã ( Castiano P, at al, 2005: 26- 27).

O período apôs a independência foi caracterizado por muitas mudanças no aparelho administrativo e da sociedade. A educação foi um dos sectores afectados que contava com poucos quadros para garantir a máquina do estado e assegurar a educação para os moçambicanos.

Os dados estatísticos de 1975, mostram que cerca de 98% da população de Moçambique é analfabeta. Neste contexto o sistema de educação deve responder ao problema da falta de quadros, por isso, fala-se de escangalhar o aparelho do estado colonial e a educação era um dos sectores que devia sofrer essas transformações (cf.Castiano, 2005: 26- 27). Aqui devemos frisar que durante a guerra de libertação a educação estava virada para o trabalho e para produção e depois da proclamação da independência devia reajustar-se a novas realidades para a edificação do país dentro das directrizes do partido FRELIMO.

No pôs independência, o objetivo central atribuído ao SNE era o de formar o Homem Novo Revolucionário: "um homem livre do obscurantismo, da superstição e da mentalidade burguesa e colonial, um homem que assume os valores da sociedade socialista" (Moçambique, 1985, p. 113).

Essa lei foi revista em 2002 visava fundamentalmente adequar as políticas da educação  para a realidade de modo a responder as exigências da sociedade. O Plano estratégico de Educação orienta que o currículo deve responder a três pilares:

O primeiro que é de a expansão das oportunidades educativas, a melhoria da qualidade do ensino e da descentralização da administração escolar (MINED, 2005).  Para além destes pilares, há uma quarta abordagem que é a adaptação do sistema de educação às novas condições. Esta questão tem eco nas concepções usadas para a elaboração do novo currículo.

Basílio (2006) o novo currículo do Ensino Básico centra-se no aluno, ou seja, no construtivismo e numa pedagogia sensível às culturas priorizando assim, por um lado, as teorias tradicionais e, por outro, as teorias críticas ou pós-críticas na relação a cultura como elemento que deve ser considerado na organização do currículo na escola( cf. Basilio, 2006  )

O novo currículo do ensino Básico prevê as três teorias do currículo: tradicional, critica e Pôs-crítica, mas com ênfase as teorias críticas que permitam uma aprendizagem ligada ao contexto social e aos saberes culturais, ou seja, o aluno é centro da aprendizagem, construindo o seu próprio conhecimento.

Analisando as teorias do currículo, podemos enquadrar a educação colonial nas teorias tradicionais, pois o ensino estava baseado na memorização e ligado fundamentalmente a ideologia colonial dominante e estava estruturado de forma a que o aluno fosse um consumidor da cultura alheia e educado para ser obediente.

FREIRE (1987: 33) argumenta que os alunos eram objecto pacientes, simples ouvintes, o educador é o verdadeiro agente, como seu real sujeito, com o objectivo de encher de conteúdos da sua narração e, quanto mais vai enchendo os seus recipientes com seus depósitos tanto melhor educador será. Quanto mais se deixem docilmente encher, tanto melhores educandos serão.  

A educação era um instrumento de perpetuação das ideologias do regime, das elites  com intenções de servir apenas as minorias na época. 

 

2.1. Recolha e Selecção dos conteúdos do currículo local no ensino Básico


O currículo é sempre resultado de recolha e selecção de conteúdos relevantes de uma sociedade. Muitas vezes se questiona, qual é o conteúdo local que se deve ensinar, e como são seleccionados e que indicadores são usados para validar um determinado conhecimento local a ser ensinado? Para responder a estas questões vamo-nos recorrer a realidade, a prática ou seja, aquilo que a escola da Maxixe faz para a recolha e selecção dos conteúdos do currículo local.

Tratando-se de conteúdos do currículo local, é da iniciativa da escola negociar com a comunidade para um consenso que conteúdos locais podem ser leccionados na escola. INDE(2011:14) orienta que a selecção dos conteúdos locais deve observar:

A relevância sócio-económica, cultural e Política; contribuição para o fortalecimento da unidade Nacional; promoção de auto-emprego; desenvolvimento de competências básicas para a vida; preservação dos direitos e deveres da criança; preservação do patrimônio histórico e cultural e preservação e conservação ambiental.

Este critério limita tendências que possam pôr em causa os valores supremos da sociedade moçambicana, por exemplo, a tolerância, solidariedade, a autoestima, a unidade nacional referido acima, a Paz.

O processo de selecção dos conteúdos locais foi muito sinuoso e lento, devido provavelmente de ser algo novo na escola, da falta conhecimento e da descrença por parte dos professores da finalidade desta inovação embora se preveja nos programas de ensino 20% do tempo lectivo de cada disciplina para o tratamento dos conteúdos locais relevantes na escola. Mas também foi acompanhado por não fortalecimento em termos de conhecimentos sólidos dos técnicos do nível Provincial e distrital que pudessem capacitar e supervisionar as escolas.

O processo de recolha e selecção foram lentos, devido às fases que deveriam ser seguidas para se chegar ao produto final da existência de uma brochura ou manual de abordagem de conteúdos do currículo local. Embora tenha levado tanto tempo, pode se afirmar que os distritos de Inhambane têm manuais distritais do currículo local, talvez se possa questionar pelo nível de aprofundamento dos temas, consensos e da sua implementação na sala de aula.

Numa das fases de encontro com a comunidade de Pande, distrito de Govuro, propunham afincadamente que pudessem incluir nos manuais as cerimónias fúnebres.Entendia que fosse um aspecto relevante para os seus educandos. A escola devia discutir e mostrar a função da escola e os valores que almeja para a formação da personalidade do individuo.Como assevera  Nguenha(Junho,2014) numa palestra organizada pela UP-sagrada Familia aos mestrandos que a “escola deve criar sensos, dissensos e consensos, ou seja a escola deve negociar e trazer  esses conhecimentos para discutir e criar consensos.  

O processo de selecção dos conteúdos locais iniciou pela entrevista aos “informantes locais”, aqueles que detêm um conhecimento sobre a cultura local em que se encontra a escola. Com as informações recolhidas na comunidade que a escola organizou uma brochura para se incluir no manual distrital do currículo local da Maxixe.

 

2.2. Sistematização dos conteúdos do currículo local


Durante o processo de recolha e selecção dos conteúdos do currículo local os professores foram capacitados como deveriam recolher a informação na comunidade, a preparação dos instrumentos, como o guião de entrevistas a comunidade, a o tratamento dos mesmos na sala de aula e também a questão  da transposição da informação em textos didácticos.

Muitas escolas traziam muitas informações não muito “trabalhadas didacticamente”. As escolas recolhiam muitas informações e agrupavam em temas. Mas a informação recolhida para passar para a sala de aula  e ser percebida pelos alunos deveriam passar par um processo de tratamento didático dos conteúdos locais.

Não basta seleccionar o que pode ser ensinado, mas também saber como tornar o conteúdo viável e compreensível através da transposição didáctica dos conteúdos que “um processo de transformação do que é complexo para simples, sem perder de vista toda a sua cientificidade e a qualidade da informação. Trata-se de tornar o difícil em facilmente digerível, tendo sempre em conta o grupo a que se destina a mensagem”( Barreto at al, 2010,12).

Esse processo permite também que se respeitem os níveis de desenvolvimento da criança e a linguagem usada para os vários níveis de aprendizagem. Muitas vezes as escolas tinham certas limitações de como tornar o conteúdo local mais agradável e informativo aos alunos. Este aspecto não está claramente patente no manual do INDE como uma sugestão que poderia minimizar estas barreiras didácticas.

Este processo de sistematização foi realizado a partir da escola, da Zona de influência Pedagógica( ZIP) e até ao distrito, culminando assim na elaboração do manual distrital do currículo local.

 No nível das ZIP houve fraco envolvimento dos “informantes” chegando muitas vezes a questionar a intenção da escola de querer sistematizar esses conteúdos. No entender de alguns informantes que eram detentores de conhecimentos de artesanato, olaria, sapataria, alfaiataria, conhecimentos ligados à medicina tradicional, não forneciam, ou seja, não aprofundavam os temas.

Durante auscultação a comunidade submetida a entrevista, a informação dada pela a comunidade  sobre sobre que conteúdos a seleccionar relacionada a plantas e animais medicinais, e confecção de alguns produtos artísticos, como por exemplo, a olaria, danças tradicionais da zona. Talvez, isso tenha uma influencias em contacto com outras culturas ou povos que ao longo dos tempos algumas práticas culturais foram sofrendo.

 

2.3.Legitimação e validação dos conteúdos do currículo local


 

O currículo como sendo um campo vasto e apetecível para as classes dominantes, as decisões sobre ele são tomadas em diversos contextos, político, administrativo, gestão e de realização e a que correspondem as fases do currículo prescrito, apresentado, programado, planificado, de acção e avaliado (Pacheco, 1996; Gimeno, 1988).

Ao nível das intenções, encontram-se as políticas educativas que definem não só as orientações globais mas também os instrumentos que dão forma à prática curricular. No plano intermédio ou da escola, reajustam-se as orientações e reconstroem-se os instrumentos curriculares e, por último, ao nível da aprendizagem, são tomadas pelos professores e alunos as mais importantes decisões curriculares.

 Se formos analisar as políticas de educação em Moçambique seguem o mesmo cenário em que as orientações são definidas a nível central, operacionalizadas a nível provincial e implementadas e readaptadas  a nível  do distrito e escola. Embora o governo tenha descentralizado a gestão da educação a nível dos municípios que está se mostrando lento.

Apesar de haver uma intenção do governo de descentralizar os serviços de educação, o currículo prescrito é uniforme em todo o país e pouco se readapta em termos de programas, conteúdos deixando claro que há uma forte manifesta dependência das políticas curriculares centralizadas, ou seja ,as competências dos professores, dependerão das políticas curriculares centralizadas e/ou descentralizadas, sobretudo no que diz respeito à concepção, implementação e avaliação do currículo.

Então, se o currículo prescrito ou programado é legitimado pelo governo central, através do Ministério da Educação e o currículo local quem o legitimará? A resposta desta pergunta foi sempre controversa durante a elaboração dos manuais. Uns diziam que o administrador é quem tem que legitimar o currículo local porque ele representa o governo central, outros dão a primazia ao director do serviço de Educação, juventude e tecnologia por ser da área  e outros ainda, os mais indecisos, referiam-se do director Provincial ou do governador da Província.

Nesta percepção quem legitima o quê? Parece ser compreensível que se trata de um território descentralizado em que o administrador tem poder pleno sobre ele e tratando-se de conteúdos locais, vivência local parece ser compreensiva também que haja um consenso e sejam legitimados pelo poder local em colaboração acérrima dos gestores de educação.

2.4.A Implementação dos conteúdos do currículo local no processo de ensino-aprendizagem


 

A existência de um currículo planificado não é um fim em si, mas é um pressuposto  e um meio para a mediação do conjunto de experiências da sociedade  aos alunos, ou seja, não basta ter o manual do currículo local para aferir que está sendo implementado. Vários factores são equacionados para a sua implementação tendo um olhar para o professor, condições estruturais da escola e da colaboração da comunidade ou dos “informantes locais” para a efectivação. INDE (2011: 21) recorda que a comunidade tem o papel de :

Fornecer informações relevantes a serem abordadas na escola; apoiar na transmissão de conhecimentos/experiências, relativas aos saberes locais; sempre que possível, fornecer apoio material para uma melhor execução das actividades; envolvimento dos membros da comunidade nos trabalhos do currículo local é feito de forma rotativa, portanto, alternam entre si.

 A comunidade é representada por intervenientes da educação, das instituições locais e privadas , organizações sociais e todos aqueles que possuem e  possam dar informações relevantes para integração na escola. As acções de intervenção da comunidade local são coordenadas pela escola para apoiar na facilitação das experiências acumuladas ao longo do tempo de modo que os alunos tenham os conhecimentos que possam participar no desenvolvimento sócio-cultural e económico da sua comunidade.

Essa visão é uma pretensão que está longe de ser alcançada se consideradas as práxis actuais nas escolas e principalmente na escola que fomos observar ( embora não seja  de forma profunda) o envolvimento e a aplicabilidade dos saberes locais na escola. Esta mostra dificuldades de articulação dos conteúdos do currículo local no processo de ensino- Aprendizagem.

Os factores que registamos estão directamente ligados a questões da fraca recolha dos conteúdos do currículo local e no envolvimento da comunidade na sua abordagem. Por exemplo, a brochura existente na escola não contemplam conteúdos relacionados a matemática e também não exploram muito a pesca, o comércio,o plantio e o valor económico do coqueiro. Essas actividades, muitas vezes sustentam os habitantes da Maxixe..

A implementação é também influenciada, na percepção da escola, pela fraca articulação com a comunidade  no processo de recolha e da mediação dos conteúdos do currículo local na escola.

                                            

 

 

 

 

 

 

Conclusão

Em dois capítulos, procurámos discutir e trazer elementos que pudessem explicar a questão da implementação dos conteúdos do currículo local do ensino Básico. Assim, registamos que os saberes locais constituem uma intenção que precisam ser concretizadas ao nível das escolas do ensino Básico.

Procurámos também analisar a concepção do currículo local do ensino Básico e o seu enquadramento nas teorias do currículo, a recolha e sistematização, legitimação e implementação no Processo de ensino-Aprendizagem. Isso tudo, na tentativa de buscar uma abordagem sobre o currículo local: um olhar para a sua implementação no ensino Básico.

Este pequeno ensaio, embora com uma limitação em termos de amostra, trazemos uma prática da EPC da Maxixe-Sede no âmbito da implementação do currículo local que nos comprometemos desenvolver mais o trabalho para que o estudo não se limite apenas a uma escola.

O estudo que fizemos a EPC da Maxixe Sede denota uma vontade de implementar os conteúdos do currículo local mas ainda precisa de desenvolver mais a brochura do currículo local e que não se baseie apenas em algumas disciplinas do ensino Básico.

Constatamos que a brochura do currículo local da escola é limitada e os professores ainda que não implementem mas não têm conteúdos abrangentes para todas as disciplinas  que lhes permitam planificar e posteriormente facilitar no processo de ensino-aprendizagem. Constatamos também , em conversa com o director pedagógico da escola, que implementam mas que a comunidade não colabora efectivamente na abordagem  desses conteúdos. Castiano (2005:74), “o processo de introdução e sistematização dos conteúdos/saberes locais nas escolas, até mesmo ZIP’s depara-se também com outras dificuldades que segundo devem ser tomadas a sério para não perigar a própria intenção de tornar a escola relevante”.

 

 

 

 

 

 

                                                    Bibliografia

 

BARRETO, at al.Guião de Apoio na Transposição Didáctica de Textos para o Curriculo local: Uma experiência Conjunta DPEC e GTZ-ProEducação , Maputo,2010.

BASÍLIO, Guilherme. Os saberes locais e o Novo Currículo do Ensino Básico: Tese de Mestrado na Universidade Potificia Católica de S.P. 2006.

CASTIANO,José P., at al. A longa Marcha duma Educação para todos em Moçambique, Maputo: Imprensa Universitária, 2005.

FREIRE,Paulo. Pedagogia do Oprimido,17ª edição, Editora Terra e Paz S/A, S.P. 1994.

INDE, Manual de Apoio ao Professor: Sugestões Para A bordagem do Curriculo Local ( Uma alternativa para a Redução da Vulnerabilidade),2ª edição,  Maputo, INDE-MINED,2011.

INDE/MINED. Plano Curricular do Ensino Básico: Objectivos, Política e estrutura, Planos de estudo e Estratégias de Implementação, ,Maputo, INDE-MINED 2003.

MICHEL,Maria H.Metodologia e Pesquisa Científica em Ciências Sociais: Um Guia Prático para Acompanhamento da Disciplina e Elaboração de Trabalhos Monogáficos. 2ª edição,S. Paulo, Atlas,2009.

MINED. Sistema de Gestão e Garantia de Qualidade, Maputo, 2012.

PACHECO,José A. Componentes do Processo do Desenvolvimento do Currículo. Porto, porto Editora,1996